segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Voltando para Casa



Eis um tema que tem o poder de evocar infinitas imagens. Podemos imaginar desde uma cena cotidiana, o momento do dia em que voltamos para casa, cansados e/ou felizes depois de um longo dia de trabalho – até um acontecimento único na vida de uma pessoa, que volta para casa, por exemplo, após um longo período de exílio.
O retorno ao lar é sempre uma cena tocante nos filmes, livros, mitos ou contos de fadas. E o que está por trás dessas cenas, que são o clímax da história, é sempre um encontro: com o outro ou consigo mesmo. Podemos nos perguntar em que momentos da vida aconteceram encontros verdadeiros e significativos com outras pessoas e o que ficou em nós a partir de cada um, as mudanças decorrentes, um novo caminho, talvez. Uma nova inspiração ou um novo desafio.


Podemos também pensar em que momentos vivenciamos um encontro profundo com nosso próprio ser. Quando nos emocionamos diante de algo grandioso e belo. Quando descobrimos uma verdade oculta há muito tempo, ou redescobrimos algo importante que andava esquecido. Quando a vida ganha um novo sentido. Quando nos permitimos o silêncio, a quietude. Quando nos sentimos mais inteiros.



A antropóloga Angeles Arrien refere-se, em uma de suas palestras, a “partes de nós mesmos voltando para casa”, referindo-se àqueles aspectos da nossa personalidade dos quais não nos apropriamos. Podem ter sido projetados sobre outras pessoas, por não os termos reconhecido como sendo nossos. Mas eles nos pertencem e nossa unicidade depende de seu reconhecimento ou apropriação. Depende do quanto estamos dispostos a recebê-los em seu caminho de volta para casa. Aceitar a mim mesmo, reconhecer minhas falhas, legitimar meus próprios talentos.


Voltar para casa pode ter o sentido de estar onde se encontra nosso coração. Percorrer um caminho que tenha um significado verdadeiro e especial, que é único para cada um.  Aceitar o desafio do auto-conhecimento. E isso não acontece sem admiração ou surpresas ou riscos. É preciso acreditar nesse caminho. Abrir portas e janelas. E deixar o sol entrar.




quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Mundo em Mim, Eu no Mundo

Cada pessoa traz consigo seu próprio e único mundo. Um mundo feito de imagens, lembranças, paisagens, momentos, passagens, imagens que formamos de outras pessoas. Permeado pela força viva dos sentimentos, esse mundo – soma de toda nossa história pessoal – é dinâmico, transforma-se, atualiza-se a cada instante. Acompanhar nosso próprio movimento interno é um desafio. Exige atenção e presença, acompanhamento e cuidado amoroso com nosso próprio ser.




Por vezes, é preciso trazer à consciência o que está adormecido e precisa se expressar, como uma aspiração antiga, que ficou apagada pelo tempo. Ao contrário, outras vezes nos deparamos com um sentimento que vai ocupando um espaço cada vez maior, até que possamos realmente olhar para o que ele demanda, que tipo de ação é preciso empreender.   De qualquer forma, um equilíbrio é sempre necessário, entre as necessidades do nosso próprio mundo interno e as questões que nos são apresentadas a partir do mundo ao qual pertencemos. É como respirar, permitir essa troca harmoniosa entre dentro e fora. O mundo em mim, eu no mundo. Pensar, sentir, agir. A ação consciente só é possível se estivermos “em dia” com nós mesmos, se prestamos atenção e refletimos sobre nosso próprio processo interior, se atualizamos e mantemos contato com o que é mais precioso e importante a cada momento. A resposta  pode ser sempre a mesma. Ou sempre outra. Só precisa ser verdadeira.





terça-feira, 9 de julho de 2013

Tornar Visível o Invisível

Tornar Visível o Invisível



          "O essencial é invisível para os olhos", disse o aviador e escritor francês, Saint Exupéry. Eis que convivemos com o invisível em nós mesmos, por toda vida. Nossos sentimentos, sensações, enfim, toda percepção de um mundo interno, inerente a cada pessoa, que faz parte  de uma bagagem emocional. Há muitos anos atrás, li algo em um guia de viagens, que me acompanha desde então, toda vez que estou prestes a viajar: "Pack light, pack light, pack light!" (faça as malas com o essencial, viaje leve!) E independentemente da extensão da viagem, se vamos até a esquina ou até o outro lado do mundo, a vida é uma grande viagem (para onde mesmo?) e a regra número 1 do guia vale para todos os momentos. Afinal, o que é mesmo essencial na minha "bagagem invisível"? O que vale a pena continuar carregando e a que custo? Qual o valor e o significado, por mim atribuídos, aos meus "pertences invisíveis"? Ainda me são úteis, ou belos, ou verdadeiros? Fazemos isso com tanta naturalidade no check-list da bolsa, no dia a dia, ou da mala, quando vamos um pouco além da esquina... Então o que nos impede de fazer isso com certa frequência, com aquilo que é realmente essencial em nossas vidas? Já não parece tão simples, não é? Um tanto mais complexo que uma lista de viagem e possíveis combinações de roupas e acessórios.
       É justamente essa complexidade da tarefa que talvez pudesse se tornar menos complicada à medida que se transformasse em algo mais visível aos olhos. Pode parecer estranho, mas dispomos de ferramentas simples para que isso aconteça. Talvez a maneira mais simples e acessível de fazer isso, no sentido de visualizar as primeiras formas ou cores do nosso próprio  mundo invisível, seja o ato de escrever. Ao tentarmos descrever, por escrito, o que vai por dentro de nós, as linhas que traçamos no papel vão imprimindo algo que poderia se comparar a um gráfico, onde a qualidade e a intensidade do que quer que seja que estejamos sentindo, vai cruzando a fronteira do nosso ser, de dentro para fora, deixando de ser invisível. E podemos experimentar a mesma sensação de alguém que, pela primeira vez, vê sua imagem refletida num espelho, como no mito de Narciso. O rosto, antes perceptível ao toque, invisível para si próprio, agora ganha forma e luz. Da mesma forma, nosso mundo interno pode ser visualizado com a mesma clareza sempre que o projetamos e nos permitimos expressá-lo de alguma forma. Escrever é apenas uma entre tantas possíveis formas de expressão, mas para muitos de nós, talvez seja a mais próxima. Além de ser muito útil para atualizar o check-list: da bolsa, da mala, ou, ainda mais essencial, nossa bagagem de mão (ou de cabeça, ou de coração!) invisível que se transforma em visível, clara como a luz.

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Conto, Cores, Panos e Pontos

                          Conto, Cores

                          As imagens trazidas pelas mães levaram à escolha do conto "A Azarenta", por Agatuzza Messia, o qual relata a longa trajetória da personagem central, desde o chamado à aventura da vida, desafios enfrentados, ajuda de aliados, até o grande encontro com o amor ao final da história.
                           As cenas mais marcantes foram escolhidas livremente pelas mães, individualmente e, em seguida, transformadas em cores, paisagens e elementos, através da pintura em aquarela. Esse é um momento de concentração, interiorização, um deixar-se levar pelo que é essencial na cena escolhida e sua significação no momento presente.

                          










            Ao longo dos próximos encontros, foram trabalhadas questões biográficas, com os grupos de mães, tendo como ponto de partida as próprias situações vividas pela personagem da história. Este processo despertou uma reflexão, compartilhada de uma maneira muito espontânea, sobre alguns temas difíceis e, ao mesmo tempo, inevitáveis, como perdas, separações, desafios  ao nosso desenvolvimento, além das forças de que dispomos para entrentá-los.


                        
                        






      Todo este processo foi desenvolvido com a participação sempre presente da colega da Terapia Artística, Raquel Serpa. 
     

                        ... Panos e Pontos!

      Recortar, alinhavar, costurar... Como os alfaiates dos contos de fadas, iniciamos esta nova etapa do trabalho. Através das mãos habilidosas das mães, as pinturas foram se transformando em lindos quadros de "patchwork", a arte de unir retalhos.

    As formas um tanto diluídas da aquarela ganharam, entre panos e pontos , contornos mais definidos, nova textura, enfim, uma expressão diferente, mais concreta, talvez.            

   

          Conversas animadas e soltas, entre as mães, alternavam-se com momentos de silêncio e reflexão, como partes de um todo. Como partes de si mesmas, que íam se sobrepondo, ocupando novos espaços, em busca de harmonia.

             Nesta fase, as mães foram orientadas pela coordenadora do projeto "Eu Faço", Angela Milene Madeira, coolaboradora do Saúde Criança.




             E, enfim, começamos a re-compor todas as cenas da história - agora revestida, refletida, recontada - em uma linda colcha de retalhos!


          Aqui, contamos também com a coolaboração preciosa da Lila Álvares, coordenadora do Projeto "Eu Brinco".
                                                  Raquel e Lila
 
     
               Gostaria de agradecer a todos(as)  que participaram e apoiaram este projeto, Raquel, Angela, Lila, à toda equipe da Saúde Criança Florianópolis, em especial, Gabriela, Inaiara e Bébbhinn.
                Um agradecimento especial à Dra. Gudrun Burkhard, da Associação Sagres e às professoras do Curso de Contos, Mônica Rosales e Elisa Bernal, que presentearam cada aluno, no início do curso, com uma semente de milho.
Este trabalho é um dos brotos desta semente.
                A todas as mães e pais, que doaram seu tempo e dedicação e foram o motivo deste trabalho, espero que as imagens da história ecoem profundamente, em momentos onde forem necessários força, paciência, perseverança e amor. 
               
                                                 Iara

Aproveito para convidar a todos a conhecerem de perto o trabalho da Saúde Criança Florianópolis, através do site http://www.saudecriancafln.org.br/ e participar da Macorranada do Bem, a ser realizada no próximo dia 30 de junho (em detalhes, no site). 
                        

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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Recontar a Nossa História

    Este é um projeto que surgiu no ano passado, em 2010, com o grupo de mães participantes da ONG Saúde Criança Florianópolis.
    A princípio, criamos juntas histórias coletivas, as quais vieram carregadas de imagens e símbolos. Um pouco da história pessoal de cada uma já transparecia nos primeiros relatos, onde, protegidas por personagens em situações inusitadas e imaginárias, as mães foram trazendo à vida, partes adormecidas de si mesmas.
    No momento seguinte, transpusemos as imagens em cores e transparências da aquarela. Confira, em breve, as fotos dos primeiros trabalhos deste projeto e acompanhe a maneira como o mesmo foi se desenvolvendo.

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