terça-feira, 9 de julho de 2013

Tornar Visível o Invisível

Tornar Visível o Invisível



          "O essencial é invisível para os olhos", disse o aviador e escritor francês, Saint Exupéry. Eis que convivemos com o invisível em nós mesmos, por toda vida. Nossos sentimentos, sensações, enfim, toda percepção de um mundo interno, inerente a cada pessoa, que faz parte  de uma bagagem emocional. Há muitos anos atrás, li algo em um guia de viagens, que me acompanha desde então, toda vez que estou prestes a viajar: "Pack light, pack light, pack light!" (faça as malas com o essencial, viaje leve!) E independentemente da extensão da viagem, se vamos até a esquina ou até o outro lado do mundo, a vida é uma grande viagem (para onde mesmo?) e a regra número 1 do guia vale para todos os momentos. Afinal, o que é mesmo essencial na minha "bagagem invisível"? O que vale a pena continuar carregando e a que custo? Qual o valor e o significado, por mim atribuídos, aos meus "pertences invisíveis"? Ainda me são úteis, ou belos, ou verdadeiros? Fazemos isso com tanta naturalidade no check-list da bolsa, no dia a dia, ou da mala, quando vamos um pouco além da esquina... Então o que nos impede de fazer isso com certa frequência, com aquilo que é realmente essencial em nossas vidas? Já não parece tão simples, não é? Um tanto mais complexo que uma lista de viagem e possíveis combinações de roupas e acessórios.
       É justamente essa complexidade da tarefa que talvez pudesse se tornar menos complicada à medida que se transformasse em algo mais visível aos olhos. Pode parecer estranho, mas dispomos de ferramentas simples para que isso aconteça. Talvez a maneira mais simples e acessível de fazer isso, no sentido de visualizar as primeiras formas ou cores do nosso próprio  mundo invisível, seja o ato de escrever. Ao tentarmos descrever, por escrito, o que vai por dentro de nós, as linhas que traçamos no papel vão imprimindo algo que poderia se comparar a um gráfico, onde a qualidade e a intensidade do que quer que seja que estejamos sentindo, vai cruzando a fronteira do nosso ser, de dentro para fora, deixando de ser invisível. E podemos experimentar a mesma sensação de alguém que, pela primeira vez, vê sua imagem refletida num espelho, como no mito de Narciso. O rosto, antes perceptível ao toque, invisível para si próprio, agora ganha forma e luz. Da mesma forma, nosso mundo interno pode ser visualizado com a mesma clareza sempre que o projetamos e nos permitimos expressá-lo de alguma forma. Escrever é apenas uma entre tantas possíveis formas de expressão, mas para muitos de nós, talvez seja a mais próxima. Além de ser muito útil para atualizar o check-list: da bolsa, da mala, ou, ainda mais essencial, nossa bagagem de mão (ou de cabeça, ou de coração!) invisível que se transforma em visível, clara como a luz.

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